Semblante sereno, fala pausada e voz baixa, mas com um olhar sempre atento. Assim é o nosso  cooperado Mário Quintino da Fonseca, o “Seu” Mário, morador de Fama, que completou 88 anos no último dia 11 de julho passado.

A história dele é semelhante a de muitas pessoas que nasceram nas primeiras décadas do século passado.  Os pais se casaram muito novos.  A mãe, Maria Madalena da Fonseca tinha só 12 anos e o pai, José Quintino Sobrinho, estava com 16 anos, quando a família começou. Maria Madalena teve 16 gestações, com 12 filhos sobreviventes.

Seu Mário foi o sexto filho do casal, nascido em 1932 no sítio  Pinhal, no município de Fama. E muito novo já ajudava o pai na roça. O pai plantava e comercializava alho, que era o sustento da família. “Plantei muito alho, mas nunca gostei de alho na comida”, conta ele, sorridente. Foi assim que ele cresceu: A família não tinha muitos recursos, mas havia fartura na mesa.

Ainda moço, ele conheceu, de uma forma bem curiosa, a futura esposa, Alaíde Marques Fonseca. Eles eram primos (o pai dela era irmão do pai dele),   moravam longe e não se conheciam. Um dia um outro primo chamou o Mário para eles irem até o sítio dos pais de Alaíde, para conversar com ela e uma irmã. A intenção era começar um namoro com as duas moças. Só que na hora de conversar, a Alaíde, que o outro primo pretendia namorar, acabou se interessando pelo Mário.

Dona Alaíde, hoje com 84 anos, lembra que era muito difícil namorar naquela época, porque o pai era muito rígido. “Não esqueço uma vez que ele foi visitar o pai do Mário em Fama, de trem e eu estava junto. E tinha um circo de tourada na cidade. Nós fomos no circo e o papai não deixou  eu assentar ao lado do Mário, ele assentou no meio”, conta. Depois de cerca de um ano de namoro, eles se casaram no dia 26 de outubro de 1957.

Seu Mário e a dona Alaíde foram morar no sítio Pinhal, do pai dele. Foi naquela época que o pai herdou outro pedaço de terra e o ofereceu para o Seu Mário cuidar. “Meu pai fez um contrato, tudo direitinho e quando estava vencendo o prazo, ele propôs de me vender. Meu pai era muito certo com as coisas”, lembra. Eles negociaram e chegaram a um acordo.

Só que para passar a escritura das terras para o seu nome, Seu Mário tinha que pegar a assinatura dos irmãos, que eram casados e moravam em outros cantos do país. Ele se lembra bem da luta que foi para viajar e para conseguir com que os irmãos e os cunhados assinassem o documento. “Foi muito complicado, foi custoso, mas acabou dando certo”.

Nessas alturas, os cinco filhos de Seu Mário e de dona Alaíde já estavam criados. Foi quando o pai dele vendeu o sítio do Pinhal e foi morar na casa que herdou em Fama. E toda a família se mudou para lá.

Nas terras adquiridas do pai, que é o Sítio Barra do Rio Machado, Seu Mário plantou 6 mil pés de café – e nunca mais deixou de cuidar da lavoura. Ele também sempre gostou de criar algumas cabeças de gado.

Para ir de Fama para o sítio, que fica do outro lado da represa de Furnas, a forma mais rápida sempre foi o barco. Essa foi a rotina diária dele, durante décadas. Hoje quem mora no sítio, com a esposa, é o filho, José Carlos da Fonseca, de 59 anos.

Seu Mário sente orgulho da  vida de  agricultor: “Trabalhei até os 79 anos de vida, plantei alho, feijão e cuidei do café, sempre gostei muito de mexer com café”. O produtor é um dos mais antigos cooperados da COOMAP, tendo se associado em 1973.

Hoje Seu Mário fica recluso em casa. Antes da pandemia começar, gostava de dar umas voltas pelas ruas calmas de Fama. Mas nos últimos meses só tem recebido a visita dos filhos e netos.

Muito religioso, ele gosta de assistir as missas pela televisão e é devoto de Nossa Senhora Aparecida. E que conselhos daria para essa juventude de hoje? “Em primeiro lugar tem que ter honestidade, fé em Deus e ‘pé na tábua’. E não deixar de agradecer a Deus, porque só Ele pode ajudar a gente”, concluiu o Seu Mário.

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